Entrevista retirada do site meusons.yd.com.br/
Nem só de mar vive o surf music brasileiro. O melhor festival nacional do gênero fica nas montanhas mineiras e um dos melhores representantes nordestinos é de Campina Grande, cidade do Cariri paraibano, chamada Sex On The Beach. Um trio formado pelo guitarrista Diogo Pafa,o baixista Marlo Simaskowsk e o baterista Tonny Lira que desponta no cenário com sua música instrumental primorosa e instigante. Campina Grande é uma cidade cosmopolita e avançada que congrega pessoas de toda a região, como no caso do alagoano Diogo e do sergipano Marlo, estudantes que resolveram formar a banda junto ao local Tonny. O combo nem completou um ano de existência já lançou um EP e fez uma turnê proveitosa por vários estados do país. O primero disco cheio deve sair ainda este ano. Convidamos o baixista Marlo para esclarecer qual é a praia do Sex On The Beach. Let´s surfing!
Sex on the Beach(PB)
Como é fazer “surf music” distante da praia? Fale sobre a banda.
Marlo -Não é complicado fazer surf music longe da praia. Nem estamos tão longe assim, na verdade. São só 120Km de distância. Mas, daqui, fazemos usando a imaginação. Não é preciso estar na Jamaica para fazer Reggae ou estar no Brasil para fazer Samba ou no Espaço para fazer Psicodelia. É uma questão de estado de espírito e de imaginação. Essa regra vale para nós também. Apesar da banda ser campinense, apenas um integrante não é “praiano”. Estamos apenas geograficamente longe da praia. Mas sempre continuamos imaginando (ou indo) a uma praia aqui por perto.
A Sex fez um ano agora há pouco tempo. Nesse primeiro ano fizemos um EP, o “Wanna some Sex on the Beach?” E demos uma circulada por quase todo o nordeste e alguns lugares do Centro-Oeste e Minas, tocando em festivais, casas de shows e onde deixassem. Fizemos inúmeros shows aqui na cidade. Demos uma passada algumas vezes em João Pessoa também. A Sex tem influências variadas, provavelmente devido às diferentes formações que cada um teve, desde sons mais clássicos como Dick Dale e Ventures, passando pelos brazucas do The Dead Rock e Retrofoguetes chegando ao velho e bom rockabilly. Essas são as influências diretas. Obviamente tudo que cada um ouve acaba entrando implicitamente em algumas composições, é a ordem natural da coisa. E assim rola bacana.
Você é de outro estado e atualmente reside em Campina Grande. existe alguma diferença? como é que a cena rock campinense?
Marlo - Existem algumas diferenças nas cenas das duas cidades sim. Aracaju é uma cena que tem bandas fantásticas, porém falhava na articulação de shows e na circulação de bandas. De dois anos para cá a coisa em Aracaju mudou (e vem evoluindo), com isso mais bandas e artistas estão produzindo e se espalhando em por várias cidades. De 2004 a 2008 Aracaju passou por uma onda cover forte, e isso enfraqueceu e desestimulou muito a cena. Outra diferença são as casas de shows. Lá existe um número maior de casas organizadas para receber um show de pequeno/médio porte. Em CG temos poucos lugares pra tocar ou produzir um evento.
Um ponto negativo em comum das duas cidades, é que nenhuma das duas tem um festival de música independente. Acredito que este ano a isso deva mudar. E é importante que acontecer pelo menos um anualmente. Sobre a cena campinense em particular, aqui a cena rola como em qualquer outro lugar. O diferencial daqui é o público muito disposto. Todo mundo é sempre muito aberto a coisa novas. Vale lembrar que CG é interior, o que em termos comparativos deixa a cidade numa posição bem bacana. Acredito que por ser uma cidade universitária a galera tem mais “punch” para sair de casa e se divertir, conhecendo outros sons e outras pessoas. Geralmente o público é mais numeroso do que nas outras cidades. No cenário independente, é uma das poucas cidades do Brasil que pode rolar um show numa quinta e dar mais de 200 pessoas. Mas também é uma cena que, em termos de articulação, só de 2 anos para cá que começou a se organizar. Tradicionalmente, na cidade surgiram nomes e bandas sempre de excelente nível. De exemplo vale citar o Cabruêra, Aerotrio, Hijack, Toninho Borbo, Oxent Groove, Freqüência Zero e etc. São nomes que chegaram na minha cabeça agora. Bandas novas estão ganhando cada vez mais corpo também. A Valsa de Molly e a Warcursed são duas bandas recentes que fazem um trabalho com bastante dedicação.
Tu és um dos idealizadores do coletivo Natora. Por que criaram o coletivo e qual seu objetivo?
Marlo - Eu, Diogo Rocha e Giancarlo Galdino que damos o pontapé inicial. A Sex on the Beach, muito antes da formação do coletivo, já trabalhava tentando interligar cenas. Mais bandas e interessadas em parcerias se juntaram nós. Quando percebemos, estávamos naturalmente trabalhando de forma coletiva. Com a entrada no Circuito Fora do Eixo, oficializamos o coletivo aqui com o objetivo de fazer a troca de tecnologias e produtos culturais com outras cidades e estados. Descobrimos que em João Pessoa tinha muita gente trabalhando da mesma forma que nós, então unimos pontos em comum e fizemos parcerias. Funcionou assim com quase todos os estados do NE. Hoje é fundamental toda banda e produtor estarem conectados com a máxima quantidade de pessoas que atuam de forma similar com a sua. O músico é tão parte do processo quanto o produtor e o parceiro da casa de shows. É nessa perspectiva que o coletivo trabalha. É um espaço sempre aberto a aprendizado, críticas e novas parcerias.
A Sex on the Beach é uma banda essencialmente instrumental. Como não sendo muito comum, existe alguma dificuldade de produção (shows, gravação, etc) neste estilo?
Marlo -Até hoje não encontramos dificuldades por nós sermos instrumental. A cena instrumental brasileira certamente está melhor agora. Temos mais espaço e visibilidade hoje do que há tempos atrás. Acredito que uma banda instrumental tem a grande vantagem de não precisar de um equipamento de som tão grande, e isso acaba viabilizando financeiramente um show. Para um power trio, mais simples ainda. No limite, a Sex mesmo consegue fazer um show com um amp de guitarra, um de baixo e uma bateria. Então bem tranqüilo de tocar em qualquer lugar. É só ter energia (elétrica) e disposição.
Fale um pouco das referencias sonoras da banda.
Marlo - Bambi Molestrs, Dead Rocks, Retrofoguetes, Los Straitjackets, Dick Dale, Ventures, Swadons e Pata de Elefante são sons que nos influenciam diretamente. Obviamente, a gente acaba conhecendo outros sons em outros estilos… E tudo isso faz a soma na hora de compor e desenvolver um tema. A troca de experiências com outras bandas também ajuda no desenvolvimento do processo. A Sex tem um trilho e vários vagões. Cada um coloca o que quiser no seu vagão. Mas é importante que o trem não saia do trilho.
Quais os planos futuros da banda?
Marlo - Depois da Tour Invasão Paraibana que fizemos junto com o Nublado pelo Centro Oeste, Bahia, Alagoas e Minas, nos concentramos nas novas músicas e nas composições. Estamos pré produzindo as músicas do próximo CD/EP. A proposta é em setembro/outubro estar com o material gravado e fazer um show de lançamento em Campina Grande e João Pessoa. Agora, em junho e julho estamos nos concentrando apenas nisso. Em agosto vamos tocar na Feira da Música de Fortaleza e no BNB Cultural. No segundo semestre começa a temporada dos festivais e queremos estar preparados daqui até lá. Existe uma possibilidade legal para o próximo ano, fazendo uma “gig” pelo sudeste e sul. Mas por enquanto estamos trabalhando ainda. Nosso foco está nas músicas.
Qual a sua opinião sobre o atual mercado independente nacional?
Marlo - Falar de mercado independente hoje é falar da internet. O mercado mudou quase que totalmente com a chegada dela. O streaming e o download vieram para ficar. No mercado, já tem muita gente antenada nisso. É questão de sobrevivência mesmo. E quem não estiver a tecnologia acaba engolindo.
Temos uma nova geração de consumidores. O público que hoje tem 18 anos, muitos deles não compraram um CD na sua vida. É tudo no mp3, no computador e etc. Então, um CD não tem tanta representatividade para essa galera como teve para mim, saca. Claro que o disco não deixa de ser importante. Mas, hoje, ele não é mais essencial. A essência hoje é a própria banda. É assim que o disco vai chegar mais facilmente ao público. É a banda que vai chegar nas cidades com os CD’s. A lógica do mercado anterior era inversa.
Existe uma infinidade de bandas, selos, produtores, festivais e redes pensando no novo formato da música independente. A internet não é o futuro da música independente. O futuro é será outra coisa. A internet é o presente. temos que pensar mais a frente da internet. Acho que o caminho é esse. É não esperar que algo aconteça, e sim fazer a coisa acontecer.
A cena nunca é feita por uma pessoa ou por uma banda. Historicamente, as cenas foram construídas a partir de grupos. Acredito que o modelo que está sendo construído agora, com a política de redes interligadas, é o novo mercado independente. É essa galera (Circuito Fora do Eixo, Rede Motiva, Rede Minas, Fórum Nacional de Música, Banco de Palmas (Ecosol), MPB - Musica para Baixar, Rede Música Brasil, Feiras da Música e etc..) que está pensando e repensando ferramentas para que a música chegue, com um formato e padrão de qualidade bacana, cada vez mais em mais lugares. Afinal. Este é o objetivo final e comum.
O que achas sobre a música na era da internet?
Marlo - Particularmente, acho primordial a idéia do download e do streaming pela internet. O produto final de uma banda não é mais o disco, e sim a própria banda. Hoje, nem mesmo financeiramente o CD compensa como compensava antigamente. Há uma rara exceção: cidades do interior. Em cidades onde o uso da internet não é tão extensivo, além do show, o CD funciona muito bem! O que compensa, na maioria esmagadora dos casos, é seu álbum estar disponível livremente na internet e através disso a sua música se propagar para que a banda possa sair para tocar em cidades que nunca se imaginou. Gosto da idéia de tudo ser disponibilizado na rede. Mas há uma diferença grande entre disponibilizar o material na rede e a banda não se disponibilizar para tocar. A internet é apenas ferramenta. O show é que completa.
Fotos por Fernando Ventura e Laércio Gnomo